A Advocacia Multiportas é um marco na evolução da prática jurídica brasileira. Mais do que um conceito, trata-se de uma visão estratégica e ética que coloca os profissionais da advocacia no centro das decisões, em um cenário marcado pelo avanço tecnológico, pela complexidade social e pela necessidade de soluções mais céleres e humanas para os conflitos.
Diferente da chamada Justiça Multiportas, que se refere ao sistema institucional de acesso à justiça, a Advocacia Multiportas nasce dentro da própria advocacia, como uma mudança de postura do sujeito advogado. Essa abordagem reconhece que o processo judicial é apenas uma das portas possíveis, e não a única, para a resolução de disputas. Cabe ao advogado analisar, junto ao cliente, se o caminho mais adequado é a negociação, a mediação, a arbitragem ou, em último caso, o litígio judicial.
A idealização e sistematização desse paradigma foram consolidadas pela advogada e pesquisadora Dra. Eunice Schlieck, autora da Cartilha da Advocacia Multiportas 2.0 (2025). Nela, a autora apresenta a advocacia como um exercício que integra técnica, inteligência emocional e visão interdisciplinar, sempre preservando a autonomia do cliente e valorizando o papel do advogado como condutor de soluções.
Um dos pontos de destaque da cartilha é a integração consciente das tecnologias digitais na prática profissional. Plataformas de ODR (Online Dispute Resolution) já permitem a resolução de disputas em ambientes virtuais, tornando o processo mais ágil e acessível. A inteligência artificial, por sua vez, pode auxiliar na pesquisa jurisprudencial, no cruzamento de dados e na análise de cenários complexos. Contudo, tais ferramentas não substituem o trabalho humano: elas devem ser geridas pelo advogado, que é o único capaz de oferecer discernimento ético, presença estratégica e sensibilidade diante das necessidades do cliente.
Nesse sentido, a Advocacia Multiportas reafirma que a tecnologia é uma aliada poderosa, mas sempre subordinada ao protagonismo do profissional. É o advogado quem deve assumir o papel de gestor dessas inovações, garantindo que sejam aplicadas de maneira ética, estratégica e voltada à pacificação social.
Em 2025, essa visão alcançou reconhecimento institucional com a criação da Comissão Especial da Advocacia Multiportas pelo Conselho Federal da OAB, acompanhada do lançamento da Cartilha de autoria da Dra. Eunice Schlieck. A partir desse marco, a advocacia brasileira passou a contar com um referencial oficial que valoriza a pluralidade de meios de resolução de conflitos e reforça o papel do advogado como protagonista da profissão em um cenário de rápidas mudanças.
Portanto, a Advocacia Multiportas não é ruptura, mas evolução coerente daquilo que a advocacia sempre teve de mais nobre: a busca pela justiça. Ela projeta o advogado para o futuro como condutor estratégico de soluções, capaz de unir técnica, humanidade e tecnologia na construção de decisões conscientes e sustentáveis.
